Estudo brasileiro mostra efeitos neurológicos do zika em adultos

Publicado no 'Jama Neurology', equipe da Universidade Federal Fluminense mostrou que vírus está relacionado com complicações neurológicas graves registradas em hospital universitário.

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Especialistas da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, demonstraram que o zika esteve associado com complicações neurológicas graves em adultos internados no Hospital Universitário Antônio Pedro entre dezembro de 2015 e maio de 2016.

Os dados do estudos foram publicados nesta segunda-feira (14) na revista científica “Jama Neurology”. A pesquisa foi desenvolvida pelos pesquisadores Ivan Rocha da Silva, Jennifer Frontera, Ana Maria Filippis e Osvaldo do Nacimento.

Trata-se do primeiro estudo a acompanhar os efeitos neurológicos do zika em adultos ao longo do tempo, segundo os pesquisadores. Ao todo, 40 pacientes com doenças neurológicas graves foram recrutados: 29 com síndrome de Guillain-Barré, 7 com encefalite, 3 com mielite transversa e 1 com polineuropatia crônica.

A síndrome de Guillain-Barré afeta os nervos periféricos fora do cérebro e espinha dorsal e pode provocar fraqueza muscular e paralisia – geralmente temporária – dos membros. Os sintomas podem atingir os músculos da face e da respiração, o que faz com que o paciente precise ser tratado em unidades de terapia intensiva (UTI).

A encefalomielite é uma síndrome autoimune contra o sistema nervoso central, que provoca inchaço acentuado do cérebro e da espinha dorsal e dano à mielina, a proteção esbranquiçada que envolve as fibras nervosas. Os sintomas são fraqueza, dormência e perda do equilíbrio e da visão, similares aos da esclerose múltipla.

A mielite transversa ataca a medula, provocando a perda dos movimentos do corpo, enquanto a polineuropatia crônica ataca os nervos periféricos e pode fazer com que a pessoa perca a sensibilidade, além de sentir dor e fraqueza.

Aumento das complicações

Dos 40 recrutados, 35 (88%) apresentaram anticorpos para o zika. Pesquisadores também registraram aumento de casos dessas complicações neurológicas após a circulação do vírus em território brasileiro.

As internações por Guillain-Barré, por exemplo, aumentaram de 1 por mês entre dezembro de 2013 a maio de 2014 para 5.6 ao mês entre dezembro de 2015 e maio de 2016.

O “Jama Neurology” também dedicou o seu editorial ao tema e destacou a pesquisa brasileira.

“A pesquisa pode servir para confirmar que o zika está associado com tais síndromes.”

No entanto, o ‘Jama’ pontuou ser o estudo apenas o primeiro passo para entender o tamanho do problema. “É de extrema importância entender o alcance do zika e sua frequência em complicações neurológicas induzidas por vírus”, escreveram.

Mais pesquisas são necessárias

Como foi feita somente em único hospital no Rio de Janeiro, a pesquisa não pode determinar a frequência com a qual o zika leva a problemas neurológicos em adultos.

O editorial do ‘Jama’ citou ainda as dificuldades de se confirmar uma infecção por zika em regiões com circulação de outras arboviroses — como dengue e chikungunya.

Isso porque ainda há dúvidas se os anticorpos desenvolvidos pelo organismo são, de fato, específicos para o vírus zika.

Fonte: G1 – Bem Estar

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